Arte em Nyaneka (Angola)

Publié le par James E. Cliff

Será que existe o substantivo «Arte» em línguas angolanas
 
O historiador de arte Adriano Mixinge escreve: «Porém, que eu saiba, em nenhuma das línguas africanas existe uma palavra para designar aquilo que a historiografia ocidental chama de ARTE. Existe sim, vários vocábulos para designar aquilo que é «belo», «bonito», que «está bom»; a isso em Kimbundu chamam de «kwaba»[1].
 
Antes destas linhas, o autor prometia ao seu leitor, na página anterior, que, deixamo-lo falar: «desenharei um cenáro de reflexões e diálogo que se sustentará em premissas epistemológicas, históricas, literárias e semióticas com pulverização da antropologia colonial e a construção de um discurso crítico pós-colonial baseado tanto na filosofia como na História da arte»[2].
 
Portanto, epistemologicamente, é demasiado imprudente falar de não-existência nas línguas africnas (ou melhor angolanas) de uma «palavra para designar aquilo que a historiografia ocidental chama de Arte». Talvez assim seja para quem 1) não domina as línguas africanas; 2) quem ignoram as etno-filosofias africanas; 3) não conhece bem a essência da produção de escultura, pintura, contos, danças, etc. (quer dizer manifestações artísticas); 4) ou ainda quem conhece superficialmente os «mistérios» da arte e a sua «clássica» evolução não só no Ocidente mas através o mundo inteiro; 5) ou seja ainda, quem encontra dificuldades classificatória nos cânones exclusivamente ocidentais em relação aos cânones científicos de cunho universal apesar do seu provável primeirosurgimento no Ocidente; 6) quem não percebe o fundamento da evolução histórica da Antropologia como ciência. Vamos tentar justificar.
 
1)       Línguas africanas angolanas
A dança e a música cujo conjunto faz o teatro primordial, de acordo com o classicismo oriundo da Grecia, são universais. Em toda parte do mundo os povos dançam cantando, e é muito curioso encontrarmos a teatralidade nas suas realidades sociais. Além disso, a arqueologia encontrou a cerâmica, a escultura, a arquitectura, etc. A Literatura oral também é universal.
 
Ora bem, aquilo que a historiografia ocidental chama arte é um onjunto de manifestações em: 1) linhas: desenho; 2) volume: escultura, arquitectura; 3) cor: pintura; 4) movimento: dança; 5) sons articulados: eloquência ou declamar poema; 6) sons musicais: coro, cântico, música; 7) cinema. Essa pelo menos é uma classificação – esteticamente falando – das manifestações artísticas (Ethienne Sorriau). Nela só faltaria definir – descriptivamente – a arte: «obra cuja forma e conteúdo em congruência com título é uma criação. Aliás, tal como já vimos com a historiografia (fundamentada em línguas indo-europeias), não é cómodo uma só definição a respeito da arte, e com razão. Mas não quer com isso dizer que a Arte não tenha uma definição específica e orientadora: arte é criação. Aconselhamos a leitura em dois diferents livros[3].
 
As manifestações que compoem a Arte, «forjada pela historigrafia ocidental», ou seja pela reflexão filosófica sobre a sua evolução histórica, existem também em África. É óbvio que se essas manifestaçlões existiram, a existência de uma terminologia apropriada para designá-las é clarevidentemente inevitável. O maior e curioso problema é que ainda carecemos das escritas em línguas africanas ou seja angolanas. Quantos livros de História, antropologia, museologia, matemáticas, geografia, química, etc. já foram lançados em Angola e pelos Angolanos em línguas angolanas (excepto português)?. Uma página da história angolana fala dos nacionalistas[4]. Ora não escreveram valorizando as línguas angolanas. Portanto, é justamente através da reflexão dessas manifestações em línguas angolanas que poderemos afrimar ou não a existência do termo ARTE. Isto é dum lado. De outro, no caso de não-existência com propriedades morfo-semânticas, forjemos-la[5]. E não será vergonhoso. Assim foi também em todas línguas que hoje louvamos com grande euforia, tal como o dizem mais os termos música, teatro, historiografia, grafologia, etc. Assim por exemplo, a palavra grega στορίαι (História) nas investigações narrativas de Heredoto, não tem nada a ver com a actual História[6] como ciência.
 
 
2)      Etno-filosofia
o Padre Placid Tempels suscitou uma grande discussão de caracter científico a volta duma possível filosofia bantu[7]. E duma forma clássica, se devemos nos conformar as normas científicas, é unânime que em África encontremos as etno-filosofias. Contudo, lembremos que o hisatoriador Adriano mixinge prometeu na página 13 da sua obra, basear (sustentar) as suas opiniões sobre «as premissas epistemológicas, históricas, literárias e semióticas» com «pulverização da antropologia colonial e construção de um discurso crítico pós-colonial, baseado tanto na filosofia como na história da arte». Será que considerou a teoria de etno-filosofia? Citou J-G. Bidima[8]. Conhecemos duas obras deste autor, o que para compreender a etno-filosofia gere o «pensamento africano nas suas actividads». Mas devem essas duas obras ser completadas pelas outras de alguns autores[9] que são imperativos por razões que vamos explicar mais além. Aliás aconselhemos a intrevista de Raffray[10]. Tal pensamento é bastante popular no seio dos «intelectuais exilados» e entre os estudantes africanos em Paris[11]. Quer dizer, como em Cheickh Anta diop e Théophile Obenga, esse pensamento filosófico tem tendência ideológica, já assinalado na obra de Odotevi[12]. Só que nós defendemos a inutilidade de valorar o Negro porque tal gesto implicaria ipso facto dizer que aceitamos as «insultas» colonialistas sobre a coisificação do Negro. Mas de qualquer forma, reconhecemos na obra de Bidima a visão «de dentro» da Arte-filosofia Negro-Africna e a intensão filosófica sobre a real existência de um bloco negro-africano, ao falar da arte mas sobretudo da filosofia. Logo, a sua obra seria apenas uma sequência daquilo que começo o Padre Placid Tempels, e mais tarde Bilolo, Mveng, etc.
 
Resumidamente a etno-filosofia negro-africna tem um carácter específico nas manifestações artísticas (dança, escultura, música, etc.). Entre os Côkwe, Kimbûndu, Kôngo, Nyaneka-Nkûmbi, umbûndu, etc não é qualquer um que pode exercer as funções de dançarino, escultor, contador de contos e advinhas, etc. Antes de mais, todos eles deve pertencer a uma linha familiar bem definida, para depois passar pela uma série de iniciações desde a infância. Somento depois da sua consagração que poderá exercer a sua actividade normalmente. Talvez nas épocas coloniais seja os antropólogos a assumir a crítica. E provavelmente por isso que Adriano Mixinge referenciou Wyatt MacGaffey[13] que também reconhecemos uma abundante escrita e (não crítica no próprio sentido) sobre África central[14].
 
Passamos então a citação que refere Adriano Mixinge sobre W. Macgaffey: «...nos anos de 1950, outros tipos de arte africana, de aparência mais calma, começaram a ser aceites como «arte» pelos frequentadores dos museus, mas obras visualmente pertubados como minkisi só foram aceites a partir dos anos 60. Os factores que contribuiram para a sua aceitação incluem a independência política dos países africanos, os movimentos de Direitos civis nos Estados Unidos e o desafio da arte convencional feito pelos vários movimentos anti-arte»[15].
 
Raphaël Batsîkama, advertia, nos anos 80, que: «é muito precipitado estabelcer a liturgia antropológica sobre aquilo que Robert Verly chamou de «mintadi». É preciso dominar antes porém a língua e as suas metamorfoses em paralelo da história e sobretudo, Fukiawu já referiu, a cosmogonia desse povo»[16].
 
Wyatt Macgaffey faz-nos entender que a aceitação da arte dos Africanos é condicionada pela 1) independência os dois Congo, Gabão e as independências dos anos 1958-1960; 2) os movimentos dirigidos dum lado pelo Martin. L. King Jr.; 3) os mivimentos anti-arte que buscou a essêrncia da arte (filosofia) nos «objectos africanos», demostrando assim a incongruência com o classicismo grego (harmonia, grandeza, ordem, simetria). Pois é, está cláro que o evangelho «Negro é macaco» terá caido junto das independências e depois dos Americanos notarem que os negros também «pensam». Logo, a aceitação dos «frequentadores dos museus» porque «reconhecer as independências políticas africanas» obrigava «aceitar» as manifestações artísticas da autoria dos Africanos. Quer com isso dizer, essa aceitação não se fundamenta na «crítica» ou na «filosófia». Apenas uma «observação» dos frequentadores de museus, que geralmente são ou poder ser especialiastas ou amantes da arte. Aliás, Macgaffey é um antropólogo. O espíriot das suas escritas o provam substancialmente.
 
 
- Essencia da arte
K.E Lamal nos conta sobre fabricação de Nkisi Nkondi, numa das suas obras citado pelo W. MacGaffey. Talvéz a reprodução seja o único pecado para os Africanos, uma vez que a arte é essencialmente (a priori) uma criação. Já abordamos esse problema e cremos que a mal atribuição e o despreso sobre as manifestações artísticas em África causaram, como é lógico, a mal compreensão ou seja a mal interpretação dos sistemas productivos e formas exposicionais, dum lado. E de outro a preciptação da ínteriorização «errónea» dos valores africanos exprimido num sistema cognitivo ocidental.
 
E o próprio Negro africano acreditou – tal como na infância acreditamos as maravilhas contadas pelos mais velho – de forma que até a sua formação não lhe permita discernir facilmente os lapsos: uma termilogia ocidental, uma língua ocidental, com instrumentos de pensamento forjados no/pelo ocidente, etc. São essas evidentes razões que faziam e fazem com que a essência da arte produzida em África seja mal compreendida até pelo próprio Africano.
 
As premissas históricas e sobretudo literárias nos provam que na ordem evolutiva da Estética[17] da Artre (na Historiografia angolana por exemplo), os pseudo-artistas que reproduzem Mwana Pwo, por exemplo, desempenham essencialmente um papel educativo: o processo todo de fabricação é didatico e por consequência alinha cada cidadão a respeitar as normas de conduta social. Assim tambem é papel de artista, pelo menos consoante Aristóteles (vide Poetica, origem do teatro).
 
O que nos falta porém, é uma série de estudos comparativos. Dado que conhencemos mal a nomenclatura africana a esse respeito, e que ainda demora para estabelê-la, não seria conveniente dizermos que Africa não terá produzido na sua terminologia aquilo que a historiografia chama de Arte; ainda mais, importamo-nos poucas vezes quanto a classificação dos variantes e variaveis procedimentos de produção tendo em conta as difinições “etro-artisticas” do procedimentos.
 
Talvez seja cansativo. Mas são imperiosos os estudos científicos préliminares e fazem grande falta. Eis por que é difícil o historiador de arte angolano ver a possibilidade da palavra Arte em língua africana. Nem sequer poderia pensar na forja desse termo em língua africana dada a existência dos factos conscientes sobre essas manifestações artisticas.
 
Falando das premissas literárias, as referências notórias são:
 
1) Casamento entre Kôngo; 2) Julgamento entre Umbundo, etc. Aristóteles referênciava na sua Retórica a “arte de bem falar”, de forma que se devemos considerar como arte os sons articuladas “(eloquência, declamação de poemas, etc.), é sem sonbra de dúvida provável que os “Advogados” Kôngo e Umbundo sejam eloquentes Artistas. Para Aristóteles, a “arte de advogado” na sua “linguagem pública” lhe previlegie perante o “cidadão normal Grego” salientamos que era um dever ao cidadão de bem falar, mas somente a «Retórica» era essência da Arte quer para o politíco (também é artista), assim como para advogado. Em caso de não encontrar a bibliografia sobre o casamento entre Kôngo e o julgamento tradicional entre os Umbûndu, convidamos o leitor visitar em Angola (caso vive fora dela) e eventualmente participar ou assistir a esses eventos que são até hoje muito frequêntes (apesar duma grande aculturação).
 
 
Problemas de cânones
Em princípio não se pode estabelecer uma axiologia entre a «historiografia ocidental» e a «historiografia africana» sobre arte. Porque enquanto a primeira é lúcida a segunda está para ser feita, consoante a sua natureza, obviamente. Deverá partir de «multiverso[18]» para estabelecermos essa axiologia. Se dum lado existiram Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Descartes, Hume, Hegel, etc. em África tal «lucidade histórica» não existe. O que não implica a não-existência da própria históriografia. Para descobri-la, seria imperativa ter em conta a natureza de como se terá produzido essa historiografia. Vejamos bem. Com a pretensa inexistência das escritas África disponibiliza a oralidade que terá perdido a noção de atribuição de autoria. Mas o anonimato desses autores desconhecidos (mas não inexistentes), está óbvio nos proverbios, advinhas, maximas, anedotas, contos, etc. que possuem um suporte filosófico evidente. E não é por acaso que a dança, a escultura, cânticos, (nos ritos assim como fora deles) são essencialmente sugestivos desde a sua designação assim como a forma que são recebido pela sociedade. O desmembramento das frases nos contos, a decomposição fraseológicas nas proposições dos proverbios, a compreensão interior das frases contidas nas advinhas indicam, o que é relevante, um espirito distincto. No espaço Cokwe, de Lwena principalmente, os contos indicam diferentes autores de forma que noutras regiões as outras versões (ou variantes) especifica o «plagio» perante a originalidade. Tal é o caso também no espao Kôngo, onde os contos e proverbios, são largamente variáveis. Portanto é preciso um trabalho sistemático sobras como diferenciar os «prováveis autores» dos provérbios, contos, advinhas[19], etc.
 
Ora, é bem verdade que a ciência nasce num espaço e tempo bemdeterminados. Assim como seus cânones, instrumentos, teorias, etc. que obedecem – de forma aparentemente fiel e magicamente automática – as realidades do espaço/tempo donde nasceram. A transplantação dessas ciências juntos dos seus cânones, noutors espaços permita que se desveste dos aspectos originaias e depois aq sua inerção em várias sociedades surge a sua universabilidade.
 
A História terá começado na Grecia com Herodoto. Mas a sua compreensão sistemática evolui fora da grécia, mesmo guardando a sua designação primeira. Quem hoje fizer uma História limitando apenas na «forma herodotica», será lamentavelmente ridicularizado pela contemporaneidade científica. Ao longo do tempo, no Ocidente, arte foi definidade consoante diversos cânones. O primeiro ciclo terá sido «criação». Esse ciclo terá permanecido junto com «lendas juadaicas»[20]. O segundo ciclo terá sido grega que lhe deu um «copro filosófico»: grandeza, ordem, harmonia e simetria. Foram através desses criterios que todo Ocidente interpretou «filosoficamente» a arte que na sua produção assim como na sua concepção. Ora hoje esse cíclo já foi também ultrapassado com o surgimento de assimetria, dissimetria, etc. Como isso as «metamorfoses» de Ovides vão perder a sua essência paulatinamente. Já se falou de movimentos «anti-arte», de «surrealismo» cujo conceitos revolucionam as concepções e produções de arte nos tempos passados. E assim adiante.
 
Da Estética de Baumgarten só nos restas as mesmas sequelas que se ficou ca Cardiologia de Harvey em Medecina, por exemplo. Os cânones científicos se separam decididamente dos cânones ideoloógicos através dos quais forma forjados. Os cânones científicos divorciaram dos cânones ideológicos que lhes deram vida, da mesma forma que o filho passa a ser aquilo que o pai não queria ser. Porque são livres. Porque são naturalmente rebeldes em si. Porque, a final, são incontroláveis pela intensão humana. Ou seja, são dirigidos das verdades puras que nenhum deus poderá influenciar a sua vontade.
 
E consoante esses cânones, a historiografia angolana sobre arte deve obrigatoriamente existir uma vez que as manifestações artísticas existiram em África. Se arte é «criação» seria preferível nesse caso, talvez traduzir, a «criação» em línguas angolanas. Tal como o tentou Adriano Mixinge. Infelizmente tal «tradução literal» não poderá substanciar o valor semântico e conter nele todos backgrounds das manifestações artísticas, porque, simplesmente, a forma que são executadas em África ante-colonial, é diametralmente diferentes a do Ocidente. Mas ambas convergem pela essência. Portanto, pode se pensar na possibilidade de traduzir cientificamente a Historiografia, assim como seus métodos e instrumentos de análise. Somente assim que, de forma isolada, todas manifestções serão analizadas convenientemente. Dai, já não será necessária «inventar» à bon escient o termo «arte» porque, na própria linguagem o espirito da «análise» providenciará termos-propóstas em línguas angolanas. Prometemos publicar nos tempos vindouros um estudo desse género kikôngo. A versão portuguesa será publicada num dos nossos próximos trabalhos[21].
 
 
            - «Arte» em Nyaneka
Já que defendemos a possibilidade da existência da palavra «arte» em línguas africanas (angolanas particularmente), vamos tentar vislumbrá-la em língua Nyaneka[22]. Evitando de traduzir a palavra arte na sua singularidade semântica, vamos primeiro procurar saber como os Nyaneka chamas as «manifestações artísticas»: ou seja modaliade: dança, música, teatro, etc.
 
a)       Dança: no sentido de brincar, temos nyana; ondyongo, okunyana omasakalunga. Existe também um termo genérico que é «otyinyano» ou outra variante «otyidano»;
b)      Cântico: otyiimbo, otyisungu. Deriva do verbo iimba, ndimba. A música em si leva é genericamente um termo composto que leva o verbo iimba. Instrumentos de música tais como otyisandyi, embulumbumba, elumba, são designativos de rituais específicos. Aliás, música pode significa também «voz»: ondaka onene: voz ou música grave; ondaka onthutu: voz ou música aguda. Quer dizer já nas suas semânticas, os Nyaneka diferem os «sons articulados» e os «sons musicais» como Música;
c)       Onde há música (coro) e dança, é porque, segundo a origem de Aristóteles, há teatro. Dionísio era Deus de vinho e foi celebrado em «coro e daça». E foi durante os rituais dionisicas que terá surgido o teatro. Tal é uma das versões da origem do teatro consoante Aristóteles. Sublinhamos também que o termo teatro deriva de «theatr-on» que significa «espectáculo e edifício onde se passa esse espectáculo». Entre os Nyaneka, já vimos existe dança e música. Também existem vários ritos que se passam em determinados lugares. Logo há teatro. E como quase não existe um termo pode se procurar traduzir «espectáculo (dos ritos) e os lugares apropriados onde se passam». Rito como espectáculo-espaço se diz otyimo e depende de típo de ritos: otyimo tyomolikwatelelo. Mas geralmente o termo oviso, otyiso, otyikona, elikwatelelo passaram a ser termos genéricos para designar o «rito». Tem várias propóstas, sobre isso mas prometemos voltar ao momento certo para não antecipar algo que não concluiremos devidamente, uma vez que se trata aqui dum outro tema.
d)      Escutura: esculpir se confunde com gravar: yola, sola ou seja honga. Quer dizer «fazer uma escultura e desenhar nela», ou simplesmente, no caso de outro suporte (ferro, cerâmica, cesto, por exemplo). E essa gravura nunca era de imprimir.
e)       Pintura: otyilombo. Exemplo: dizer «o pintor é artista, já se vê»: Omulombi watyo omungo, tyimonek’ale»[23]. Quer dizer que o pintor é chamado Omulombi ou ainda omuundisi. Pintar em Nyaneka se diz: lomba, undisa, -hona. A frase «sabes pintar castinhas? Se traduz Utiyivila okulomba ovimbala?
 
São esses alguns termos que designam as modalidades artísticas. Preferimos falar das modalidades para 1) respeitar a classificação estética da Arte, segundo Ethienne Sorriau, 2) compreender o valor semântico de cada modaliade. Então passamos a concepção Grego-Latina e Armeniana da Arte. Para os Gregos arte era Beleza, Grandeza, Ordem, Harmonia, Simetria. Em Armenia, Arte é simplesmente Criação.
 
Em Nyaneka, a beleza, bonito, bem, belo, bonito, etc. significam.
            - bonitesa. Ehiwe, efiwe, ounthale (limpeza);
            - bonito: -wa; fazer bom: k’omahi-we; ser bom: okwelhi-waou seja okwefi-wa;
            - Bem: Nawa (adjectivo). Muito bom: nawa-nawa; ser justo: okwata nawa.
 
Se Arte é belo, então em Nyaneka, a concpção também seria a mesma, traduzida pelo termo OTYIWA. Esse termo implica a ideia de limpeza, de Ordem, de Harmonia e até de Grandeza porque –wa implica a grandeza: «quem ser bom é grande para deus», dizem os Nyaneka: K’omahi-wa onene Huku monekali. Aliás em Nyaneka, isso implica a ideia da justiça: «pangula ondaka»: fazer a justiça ou julgar. E se devemos comparar com as concepções Grego-Latinas, veremos que até então a Otyiwa como Arte se limita em Beleza, Ordem (Justiça – virtude).
 
Encontramos Harmonia na música: o termo ondaka como sons articulados implica «harmonia de existe no coro», ou seja Ordem. Razão pela qual em nyaneka, «fazer Justiça» ou seja «Manter Ordem» diz-se «okumpungal ondaka». Aqui a presença de –WA é relativamente tímido: Omuk-wa-soka significa Pensador. Na verdade, o pensamento diz-se «olusoke» em nyaneka, porque derivar de pensar (ou refletir) – isto é, soka. Então se com Kant, Hegel, etc. descobriu-se que a arte é «um pensamento bem organnizado«, o termo OMUK-WA-SOKE é (milagrosamente) uma tradução literal de ARTISTA. O termo arte no seu sentido de «habilidade» se encontra em Nyaneka: oumongo, ondunge, ohande. Aqui, a arte na concpção Nyaneka implica a ideia de Harmonia e relativamente de Simetria. Aproveitamos citar o termo likola (harmonia) que se aproxima de –kola, criar.
 
Passamos agora para Criação. Diz-se ompako[24] (fabricacao). Nesse caso o artista como criador seria ompakeko: “Huku, ompakeko weuhu n’ohi”: Deus criador do ceu e d terra. O termo deriva do verbo “criar” –paka-ko, -eta, -leta;-linga; thila; -hinda. Poder tambem se dizer –kolesa para tratar (sinonimo de criar). Aqui arte como criacao seria OMPAKO e OMPAKEKO para o artista.
 
Voltando a Arte, os termos Nyaneka sao: ounongo, onondunge, ohande. A palavra deriva de nonga: saber perfeitamente, ou seja conhecer profundamente (nongonoka), sinonimo de -pokola, -pongola. Dissemos que no termo pongola e pokola encontramos a raiz kola[25] (harmonia, criar). Nesse preciso caso, artista se dira omunongo, quer dizer conhecedor (omupongoli), ou seja ainda inventor[26]. Alias Omanongonokelo significa “conhecimentos do artista” quer nos seus afazeres tanto como no seu dizeres.
 
Sem pretender estabelecer “comparacao axiologica” entre os valores-suportes da arte tal como o definiu a Historiografia ocidental em relacao a aquilo que poderemos re-compor como arte em Angola (particularmente aqui Nyaneka), dissemos que aquilo que a Historiografia ocidental chamou de arte pode muito bem e claramente ser localizado em Angola. Aquilo que dissertamos atras o prova. Infelizmente trata-se duma interpretacao dos Nyaneka consoante as linhas orientadoras indo-europias quer na terminologia (tratou-se apenas de traducoes semanticas), quer no espirito textual (ou seja linguagetico). Faltaria entao um texto em Nyaneka a tentar explicar de forma intrinsica o que eles entendem por Arte. Faremos isso em Kimbundu, Kikongo e Umbundu nos estudos vindouros (alias ja temos rascunhos, para nao falar de esbocos)


[1] Metáforas angolanas, p.14.
[2] Idem, p.13.
[3] De nerval G, A lenda de hiram, Hugin, 2001, p22: «Tu copias a natureza com frialdade... e o teu trabalho tem por objectivo rivalizar pela imitação... Filho, a arte não é nada disso». Citamos G. Nerval porque está tratada a arte no seu sentido original assim como na sua língua de origem. Quem mais repetiu essa semãntica é Miguel Ângelo: «Até no testamento Velho quis deus padre, que os houvessem somente de guarnecer e pintar a arca foederis (arca de aliança) fossem mestres, não somente egrégios e grandes, mas ainda tocado na sua graça e sabedoria, dizendo Deus a Moises, que Ele lhes infundiria sapi~encia e inteligência do seu espírito para poderem INVENTAR e fazer tudo quanto fazer e INVENTAR pudesse» in Hollanda Fr., Diálogos em Roma, Livros Horizontes, 1984, p.60. De outra forma, já tratamos isso várias vezes, que se trata de Filosofo-Elite-Intelectuasl.
[4] Miller C.L., Nationalists and nomads, essays on francophone african literature and culture, University of Chicago Press, Chicago, 1999.
[5] Kwaba por exemplo pode ser uma tentativa de forjar. Mas limitado ao que «está bom«, seria limitar o valor semântico da arte que vai além daquilo que «está bom».
[6] Normalmente a História passou por fases seguintes: História Narrativa geralmente chamada Episódica; depois História Pragmática, para finalmente ser História Científica. Esta, se devemos ter em conta a definição do adjectivo «científica», a preocupação maior (talvez única?) parece que se centraliza em demonstrar a verdade, com o método específico, a análise crítica de causas e consequências. Mas esse é inevitavelmente determinado no tempo e espaço. Genericamente, tal concepção terá originado provavelmente das ideias filosóficas que au prime abords orientaram a Revolução Francesa de 1789. Com os pensadores alemãos Hegel e Karl Marx a discussão dialéctica ganha espaço. Salientemos também as relevantes teses de Leopold Von Ranke, criador do «Positivismo Histórico». O século XX nos trouxe a École des Annales. Conrudo a palavra História continua a mesma.
[7] Tempels P.«L'étude des langues bantoues à la lumière de la philosophie bantoue», in Présence africaine, Paris,1948, n.5, pp.755-760 
[8] Théorie critique et modernité négro-africaine. De l'Ecole de Francfort à la Docta spes africana (Philosophie, 1). Paris, Publications de la Sorbonne, 1993 ; La philosophie négro-africaine, (Que sais-je, 2985). Paris, Presses Universitaires de France, 1995, - Pluralité; ethno-philosophie
[9]Gaudibert P., Art africain contemporain, Diagonales, Turin, 1991 ; Mveng E., Padre, L’art d’Afrique noire, Editions Clé, 1974 ; Bilolo Mubabinge, Les cosmo-théologies philosophiques de l'Egypte antique. Problématique, Prémisses herméneutiques et Problèmes majeurs, Kinshasa-Libreville-Munich, Publ. Universitaires Africaines, 1986; Basiba Lolo Nkiambi ya Vanga, Contribution à l'étude des valeurs de l'art négro-africain: l'exemple de la plastique traditionnelle bakongo (Bas-Zaïre). Effort d'élucidation. Mémoire de licence en philosophie, Lubumbashi, Fac. des Lettres, 1977; Asante, Molefi Kete, The Afrocentric Idea, Temple University Press, Philadelphia (Pa.), , 1987. Apesar dessas publicações ser anteriores as do Bidima estão tratados neles alguns problemas de extrema importância sobre o «compreender a fenomenologia da arte» ou cultura dos Negros Africanos.. E para as publicações posteriores são: Chevrier J., La littérature nègre, A. Colin, Paris, 1999 ; BONHOMME, BÉATRICE, SYMINGTON, MICÉALA, Le rythme dans la poésie et les arts: interrogation philosophique et réalité artistique, H. Champion, Paris, 2005, 409 pp; DeFrantz Thomas F., «African American Dance Philosophy, Aesthetics, and ‘Beauty» in Topoi, XXIV (2005), pp. 93-102; FAÏK-NZUJI M.C. Arts africains: signes et symboles, De Boeck et Lacier, Bruxelles ; Levin Adam, The art of African shopping, Struik, Cape Town, 2005, 208 pp;
[10]Raffray A., L’art autour de l’art: entretien avec Kristell Loquet et Jean-Luc Parant, Éd. Marcel le Poney, Illiers-Combray, 2005, 44 pp.-VIII pp. di tavole
[11] Joseph Ki-Zerbo, na sua última obra, mostra tal attitude. Podemos encontrar a mesma atitude em Amadou Ampate Bâ, Camara Laye, etc. nas suas escritas.
[12] Adotevi Stanislas, Negritude et negrologues, Plon/Union Geral d’édition,, Paris,1972, 306p.
[13] Na nossa dissertação sobre as Origens do Reino Kôngo referenciamos esse autor. Possuimos uma bibliografia relativamente boa sobre as suas recolha e crítica nas realidades africanas (África central sobretudo).
[14] Custom and Government in the Lower Congo. Los Angeles 1970 ; "Fetishism Revisited: Kongo nkisi in Sociological Perspective", Africa 47 (2), 1977: 172–184; Art and Healing of the BaKongo Commented by Themselves, Stockholm 1991 ; "Complexity, astonishment and power: the visual vocabulary of Kongo minkisi", Journal of southern African Studies (London) 14(2), 1988: pp. 188-203
[15] Metáforas angolanas, p.15
[16] Le miroir africain, manuscrito.
[17] Como ciência das sensibilidades e percepções, de acordo com Aleksander Baumgarten.
[18] Termo usado por professor Gasset.
[19] Assinalamos que consideramos a origem do proverbio, advinha, contos, etc. que já têm caracter popular, de ponto de vista 1) filosófico, 2) sociológico, 3) psicológico, 4) gnosiológico. Esses pontos de vista todos indica que cada um tem o seu autor perdido na semântica (seu conteúdo)a (seu nome), mas permance de forma ágil na subconsciência do povo (spicologicamente), ou no espirito do povo (filosóficamente), ou seja ainda na vontade comum de povo (sociologicamente) etc.
[20] De nerval G., A lenda de Hiram, Hugin, 2001, p.22-23
[21] Estduando Massongi Afonso, Etona e Hildebrando, tenho em prol um estudo que indica a probabilidade da «Arte» como actividade profissional e filosófica em Angola. A referência de autros autores de dança e teatro é também notória dado que consideramos a Arte na sua totalidade, apesar de omissão propositada de algumas modalidades.
[22] Trata-se aqui dum extrato dos nossos ensaios sobre a «Introdução da Filosofia da Arte em Angola».
[23] Dicionário Nhaneka-Humbi, p..434
[24] Criatura se diz otyaetwako ou seja  otyilinga.
[25] Pon-gola e po-kola têm por raiz kola. No entanto, com nonga a filologia aproxima pongo-la de nonga cujas outras variantes são honga, onga, phonga, gonga, khonga, etc. Que significa conhecer. A palavra omupongoli significa conhecedor em Nkumbe (Nyaneka também).
[26] Omunongo (criador, artista), otyipuka; Omuhindi; wokwa-nonga.
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C
Na Língua Umbundu signisica "uloñgo/umesele" adicionada a .<br /> 1º Ex.: Sapalo okwete uloñgo wokumyula ovinai. O Sapalo tem a arte de modificar as coisas/ é artistas em modificar as coisas...<br /> 2º Ex.: Sapalo omesene yolohaco yocili! O Sapalo é um grandesapateiro! ...
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L
<br /> <br /> Oi estou a desenvolver um blog sobre casamentos.<br /> Gostaria de incluir links para locais onde casar em Angola.<br /> Se isso for possivel basta postarem no meu blog os links.<br /> http://casamentoaoluar.blogspot.com<br /> obrigado<br /> bjs<br /> <br /> <br /> <br />
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